A conscientização sobre o ruído cresce, cidades exemplares criam ambientes urbanos mais silenciosos, beneficiando saúde e aprendizado infantil.
Em uma sala de aula de São Paulo, no Brasil, os níveis de ruído eram tão intensos que a professora precisava elevar o tom de voz para ser compreendida. A sala de aula ficava próxima de uma avenida movimentada, onde o ruído dos carros e ônibus era constante, interferindo na concentração dos alunos da Escola Municipal 123, no bairro central da cidade.
A poluição sonora urbana é um desafio crescente em muitas cidades brasileiras, afetando a paisagem sonora e o ambiente sonoro de locais como escolas e residências. Medidas de controle do ruído são essenciais para garantir a qualidade de vida e o bem-estar da população, especialmente em áreas urbanas sonoras como São Paulo.
Impacto do Ruído na Educação e na Saúde Mental
Durante um longo período, houve queixas constantes sobre os níveis de ruído na Public School 98. Em 1975, Arline Bronzaft, uma renomada professora de psicologia no Lehman College, da City University of New York (Cuny), conduziu um estudo abrangente sobre o impacto do ruído na capacidade de leitura das crianças. Seu estudo revelou que os alunos que frequentavam as salas de aula no lado barulhento da escola, próximas aos trilhos, apresentavam um desempenho significativamente inferior nos testes de leitura em comparação com aqueles que estudavam no lado mais tranquilo do prédio. As notas médias de leitura das turmas situadas no lado barulhento eram alcançadas de três a quatro meses mais tarde em comparação com os alunos do lado silencioso.
Como resultado das descobertas de Bronzaft, medidas foram tomadas para reduzir o ruído na área. A Autoridade de Trânsito instalou amortecedores de borracha nos trilhos do trem, enquanto o Conselho de Educação equipou as salas de aula com materiais de isolamento acústico para criar um ambiente mais propício à aprendizagem. A poluição sonora é um problema cada vez mais relevante em escala global, à medida que a população cresce, os níveis de ruído na paisagem sonora urbana também aumentam.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou sobre a crescente ameaça global à saúde pública representada pela poluição sonora urbana. Estima-se que 12 mil mortes prematuras ocorram anualmente na União Europeia devido a esse problema, afetando cerca de 100 milhões de americanos. O ruído ambiente, especialmente o proveniente do trânsito, juntamente com o das aeronaves, está entre os fatores ambientais mais prejudiciais à saúde, após a poluição atmosférica. Estudos indicam que esse tipo de ruído pode aumentar o estresse crônico, causar distúrbios do sono e elevar a pressão arterial.
A exposição prolongada ao barulho está associada a problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, e também aumenta o risco de diabetes. Além disso, o uso frequente de sons altos, como os provenientes de fones de ouvido, motocicletas e cortadores de grama, pode levar à perda auditiva e zumbido. A poluição sonora, caracterizada por sons indesejados e perturbadores, provenientes do aumento do trânsito e da superlotação nas escolas, pode impactar negativamente a saúde e o desenvolvimento de bebês e crianças.
Essa realidade é ainda mais preocupante para crianças de origens socioeconômicas desfavorecidas, que estão mais expostas aos níveis elevados de ruído ambiente. Cidades ao redor do mundo, de Buenos Aires a Barcelona, estão implementando medidas para combater a poluição sonora, proteger a saúde das crianças e priorizar os pedestres, incluindo a expansão de espaços verdes nos centros urbanos, redução dos limites de velocidade e a instalação de medidores de som.
Nos Estados Unidos e na União Europeia, o tráfego rodoviário, ferroviário e aéreo são as principais fontes de poluição sonora. Um estudo recente demonstrou que o ruído do trânsito impactou negativamente a memória de trabalho e a capacidade de atenção de crianças em Barcelona, o que é crucial para diversos aspectos da aprendizagem. A conscientização sobre os efeitos do ruído na educação e na saúde mental é essencial para promover ambientes mais saudáveis e acolhedores para todos.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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