Banco central dos EUA não define data para corte de juros, apesar da inflação em queda e economia aquecida. Indefinição afeta diversos setores.
O sistema financeiro dos Estados Unidos é regido pela Reserva Federal, também conhecida como Fed. Criada em 1913, a Fed é responsável por regular a política monetária do país, controlando a oferta de moeda e a taxa de juros. Além disso, o Fed atua como banco central, supervisionando e regulando as instituições financeiras para garantir a estabilidade do sistema financeiro.
O papel do Fed na economia americana é crucial, uma vez que suas decisões impactam diretamente o crescimento econômico, o emprego e a inflação. Através de suas operações de mercado aberto, o Federal Reserve pode influenciar as condições do mercado financeiro, estimulando ou desacelerando a economia conforme necessário. Dessa forma, a atuação do Fed é fundamental para manter a estabilidade econômica e financeira do país, garantindo um ambiente propício para o crescimento sustentável.
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Reunião do Fed mantém expectativa sobre início do ciclo de queda de juros
A reunião desta quarta-feira, 20 de março, do Federal Reserve – o banco central dos Estados Unidos – seguiu o mesmo roteiro das cinco anteriores, desde agosto do ano passado: cercada de expectativa de um anúncio de quando teria início o ciclo de queda da taxa de juros, terminou sem alteração das taxas atuais (entre 5,25% e 5,5% ao ano) e nenhuma indicação clara do Fed de quando os juros vão efetivamente começar a baixar.
No comunicado final, os 18 integrantes do banco central americano continuaram a prever que os juros tendem a cair até o fim do ano, sem dar números, isso se a inflação (hoje em 3,2%) diminuir. Também divulgaram um novo conjunto de estimativas econômicas trimestrais, que prevê três cortes de juros ao longo do ano – exatamente a mesma previsão feita em dezembro, que ainda não saiu do papel.
Essa indefinição está causando uma sensação de angústia em todos os setores da sociedade americana que lembra os dois personagens da peça Esperando Godot, de 1954, do dramaturgo irlandês Samuel Beckett – que, num auto-questionamento da existência humana, mantêm um longo diálogo enquanto esperam a chegada do tal Godot, que nunca aparece.
Impacto da trajetória da economia nos planos do mercado financeiro
O mercado financeiro, por exemplo, espera uma sinalização do Fed quanto aos juros para reestruturar sua carteira de investimentos e analisar opções a médio prazo. O setor industrial também vem adiando decisões estratégicas, à espera da redução dos juros.
Parte dessa indefinição se deve à trajetória da economia americana, ainda sob impacto dos solavancos causados pela pandemia no sistema financeiro global. Entre 2022 e 2023, o Fed aumentou 11 vezes a taxa de juros para conter a escalada da inflação nos EUA, a maior desde a década de 1980.
Escalada da inflação e resistência em setores específicos
O ápice inflacionário atingiu 9,2% em junho passado e, desde então, começou a cair, até chegar a 3,2% na base anual em fevereiro – ainda distante da meta de 2% estabelecida pelo Fed. É justamente a resistência da inflação em alguns setores, como de alimentos e serviços, que impede a autoridade monetária americana de começar a reduzir os juros.
A ironia é que o clima de indefinição dos juros contrasta com os bons resultados da economia americana nos últimos meses. Além da queda da inflação, os EUA permaneceram com o mercado de trabalho aquecido durante o ciclo de inflação e juros elevados – o índice de desemprego, que atingiu baixa histórica de 3,6%, está atualmente em 3,9%.
Percepção de estagnação entre melhorias macroeconômicas
Já o S&P 500, principal índice do mercado de ações dos EUA, teve alta de 24,2% em 2023 e de 4,3% nos três primeiros meses deste ano. O crescimento estimado do PIB para 2024 está em 2,1%, em comparação com os 1,4% projetados em dezembro. Carla Argenta, economista-chefe da corretora CM Capital, afirma que a condução da política monetária pelo Fed tem sido assertiva.
Mas reconhece que a autoridade monetária titubeou a longo do processo de aperto dos juros, com pausas no meio do caminho que deixaram o mercado receoso e sem referência. ‘Não era a forma como o Fed costumava agir, mas a conjuntura do cenário pós-pandemia difere dos de outros momentos e, portanto, era natural que o BC americano utilizasse processos distintos’, diz Argenta.
‘Mas o Fed tem sido mais estável em termos de manutenção de suas sinalização do que o mercado, que tem oscilado mais, à medida que os indicadores macroeconômicos têm sido divulgados .’ Estagnação Chama a atenção, porém, a desconexão entre a forma como a população se sente em relação à economia e o que os números mostram.
Declarações cautelosas e euforia no mercado financeiro
Por um lado, advertiu que os juros nos países ricos dificilmente vão voltar a patamares tão baixos como os vistos antes da pandemia. Por outro, afirmou não acreditar que os números fortes da inflação em janeiro e fevereiro possam reverter o processo de desinflação em curso, apostando numa queda mais lenta, mas contínua.
Seguindo o tom cauteloso das últimas cinco reuniões, porém, Powell deixou claro que a redução de juros ainda depende de as autoridades ficarem mais seguras de que a inflação pode continuar a diminuir em direção à meta de 2% do Fed. ‘A decisão sobre quando cortar as taxas dependerá de mais dados, para determinar se as leituras decepcionantes que iniciaram o ano continuarão’, afirmou.
Mas uma simples menção no comunicado final do Fed – a previsão de três cortes de juros até o fim do ano – bastou para causar euforia dos mercados nos EUA, que fecharam em alta média de 1%. O S&P 500 renovou seu recorde histórico ao ultrapassar os 5.200 pontos pela primeira vez na história. As ações subiram após o discurso de Powell, com o índice de referência terminando 0,9% mais elevado.
O Nasdaq Composite subiu 1,3%, atingindo seu primeiro fechamento recorde desde 1º de março. Por aqui, o Ibovespa fechou em alta de 1,25%, terminando com 129.124 pontos. O dólar comercial teve forte queda de 1,06%, fechando em R$ 4,975.
Para Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austing Rating, a euforia do mercado se deve à leitura de que, embora não tenha sido anunciada uma queda, os juros não vão subir mais.
‘O mercado tem observado que o Fed não vai dar nenhum cavalo de pau na política monetária e vê como consolidada a tendência de queda de juros’, afirma Agostini, dando seu palpite para quando ‘Godot’ deverá chegar.
‘Embora o mercado aposte para julho, acredito que o início do ciclo de redução dos juros será em setembro.’ Relacionados A bolha está prestes a estourar no mercado de ações dos EUA, advertem especialistas Por que o J.P. Morgan liga o mercado imobiliário ao emprego em alta nos EUA Calotes corporativos crescem no maior ritmo desde a crise financeira de 2009
Fonte: @ NEO FEED
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